Site com dicas de viagens.

Caminho de Santiago pela Galícia – Relato Resumo

Em finais de 2008 resolvi fazer o Caminho de Santiago. Não todo o Caminho, mas um trecho. Estava em Madrid quando uma amiga brasileira e que morava lá, me mostrou algumas fotos do trecho que ela havia feito, começando de Villafranca del Bierzo, o que daria em torno de um quarto do Caminho.

Minha primeira motivação foi simplesmente fazer uma viagem diferente. As demais foram aparecendo ao longo do tempo, como tentar melhorar meu lado religioso (uma batalha que venho travando comigo mesma).

Pensei em fazer o Caminho no fim da primavera ou começo do outono. Seria menos frio e não tão quente! Combinei com Santiago (não o Santo Tiago, ou Santo Yago, mas meu companheiro homônimo, de todos os dias e de viagens) e decidimos ir em junho de 2009.

 Iria passar meu aniversário caminhando! A partir dessa decisão, comecei a pesquisar e a “viajar” nos planos do Caminho de Santiago. Desde então, foi um longo, agradável e divertido Caminho!

Igreja de Santa Maria Real, no Cebreiro.

Decidimos começar pelo “O Cebreiro”, porque, antes de tudo, era um lugar muito bonito. Seriam sete dias de caminhada, uma média de vinte e cinco quilômetros por dia. Entre os vários motivos da escolha em caminhar por uma semana, estava o tempo de férias de Santiago que calhou com o meu medo de ficar monótono ou de me cansar fisicamente.

 Normalmente, quem faz o Caminho completo a pé (o chamado Caminho Francês, mais tradicional*), o faz entre trinta a quarenta dias… Se bem que há vários caminhos que podem ser feitos em mais ou menos dias, em mais ou menos quilômetros….

 *Tradicionalmente, o Caminho de Santiago, o denominado Caminho Francês, se inicia na fronteira franco-espanhola, em meio aos Pirineus do país Basco. Um pequeno povoado francês, Saint Jean Pied-de-Port, é a porta de entrada mais utilizada pelos peregrinos. O outro povoado situado a poucos quilômetros, também utilizado pelos peregrinos, é Roncesvalles, que fica na fronteira, mas, já do lado espanhol.

Paradoxalmente, como não gosto de fazer nada que seja o “mínimo”, optei por não começar em Sarria, onde, logo após, se encontra o marco do KM 100, o mínimo percurso que um peregrino pode fazer para obter a Compostela (ou Compostelana), o certificado de peregrino. A nossa escolha pelo O Cebreiro como ponto de partida nos fez caminhar em torno de 180 km.

“O Cebreiro”, uma antiga aldeia celta, fica depois de Villafranca, onde começou minha amiga. Começar em Villafranca significava subir quase novecentos metros logo no primeiro dia! Não encarei!

Km 100! No 3º dia de caminhada.

Caminhamos por trilhas, estradas, bosques, montanhas e planícies da Galícia. Vendo uma paisagem maravilhosa com muito verde, carvalhos, eucaliptos, flores, córregos, vaquinhas e carneirinhos. Mas, também com pedras e lama. Ouvindo o canto de pássaros e sentindo o cheiro de mato e de flores, mas também o cheiro característico dos currais de vacas.

Assim, saindo de “O Cebreiro”, caminhamos durante uma semana, pelas províncias de Lugo e La Coruña que pertencem a Galícia. Nessa comunidade espanhola, também chamada de Galiza, cuja capital é Santiago de Compostela, fala-se galego (gallego em espanhol), quase uma mistura de português com espanhol!

Ao final da caminhada, estava muito cansada, com os pés doloridos, e nem tive muito tempo para sentir-me feliz na chegada à Santiago. Mas, no dia seguinte, olhando para a Compostela que recebi, me senti ótima e já pensei que faria tudo novamente.

Paisagens da Galícia…

Quando voltei do Caminho de Santiago, comecei a escrever sobre o “meu caminho no Caminho”. As lembranças vinham à minha mente sem me dar folga, e me vi escrevendo sem parar.

Assim, meus escritos sobre essa maravilhosa viagem se transformaram no meu primeiro livro  (“Pés no Caminho, Campo de Estrelas: O Caminho de Santiago pela Galícia”). Sei que existem muitos livros, blogs e guias sobre o Caminho de Santiago e muito bem escritos. Portanto, o que escrevi não tem intenção de ser um guia, porque não o é. É apenas mais um relato sobre um trecho do Caminho de Santiago, só que visto pelos meus olhos, do corpo e da alma.

Meu Livro!

O livro, dividido em duas partes (e mais anexos com dicas e endereços), começa com um diário e depois alguma crônicas. Trechos de algumas delas descreverei aqui. Os detalhes estão no livro!

 O Planejamento do Caminho

Fazer um planejamento estratégico para uma viagem parece loucura. Isso é coisa de “business”, claro! Mas, eu fiz. Não que eu tenha planejado fazer um plano estratégico. Jamás, como dizem os espanhóis.

Ocorre que fui fazendo uma série de pesquisas para ter mais conhecimento do Caminho, fui sistematizando as informações e colocando em slides…

O planejamento facilitou a realizar o sonho: uma visão com ação, que não tinha a intenção de grandes mudanças, muito menos radical. Entretanto, já era uma coisa nova, diferente, representada por uma nova maneira de viajar.

Escolhemos o ano de 2009, e pensamos que seria melhor em junho ou setembro, porque não queríamos calor nem frio  (uma estratégia definida a partir de uma análise do ambiente externo!). Optamos por junho!

Em Madrid, ainda em 2008, havia comprado um livro “Guía del Camino de Santiago” de Antón Pombo, porque entre várias publicações, essa incluía hotéis, hostales, casas rurais, e não somente albergues. Meu interesse não eram os albergues. Não tenho mais saco pra ficar dividindo quartos nem banheiros com muita gente. Isso pode soar pouco “peregrino”, mas é verdade. Queria e precisava dormir bem! E, também aproveitar a gastronomia e os bons hotéis da Galícia.

A boa gastronomia da Galícia. “Pulpo” e “una caña”!

Nossa  Missão era algo como: “Fazer um trecho do Caminho de Santiago a pé, buscando a melhoria dos valores espirituais, o encontro com o próximo e consigo mesmo; e ao mesmo tempo, curtir as paisagens, a natureza, a gastronomia da Galícia, e divertir-se”. Ufa, era muita coisa!

Mas, nunca a descrevemos “no papel”, embora a tínhamos “na cabeça”! Pensando bem, acho que era um pouco invertido, no duro, no começo pensei nas paisagens, no vinho, na comida espanhola e no desafio. O lado religioso vinha na minha cabeça, não sei se por culpa ou por vontade de ter esse lado realmente mais forte mesmo. Mas, na verdade, o busquei o tempo inteiro.

Tomamos algumas decisões para melhorar os “pontos fracos”, como por exemplo, comecei a fazer atividades físicas específicas que pudessem melhorar um problema na minha coluna, e, como não podíamos controlar as “ameaças”, nos preparamos para elas (compramos roupas apropriadas para as chuvas, ou mudamos algum ponto de dormida para cidades com uma melhor infra-estrutura hoteleira). Vale salientar que todos os hotéis foram reservados desde o Brasil.

Como todo plano, o mesmo deveria ser seguido, e a cada imprevisto, adaptado… Outro dia ouvi um personagem de um filme dizer que “por mais que se planeje, esteja sempre preparado para improvisar”.

Não houve quase nenhum imprevisto, e, que eu lembre o principal foram meus pés. Pés que não se adequaram às duras descidas com pedras, dentro das botas (mesmo “amaciadas” no Brasil), e tive que comprar umas sandálias para ir alternando. Um pequeno ajuste no plano!

Ao final atingimos nosso objetivo. Caminhamos sete dias, e chegamos a Catedral de Santiago no domingo, 07 de junho de 2009, conforme planejado. Fomos à Oficina dos Peregrinos, entramos numa pequena fila, e conseguimos nossa Compostelana!

Na segunda-feira estávamos assistindo à Missa dos Peregrinos, onde pudemos compartilhar com pessoas do mundo inteiro a alegria de ter chegado à Santiago de Compostela.

Na chegada à Santiago, em frente a Catedral

Das mudanças e aprendizados

Algumas pessoas falam que mudam, que ficam mais sensíveis, que vêem duendes, bruxas… Eu, pessoalmente, acho complicado falar sobre essas transformações e visões. Para mim, não tem nada a ver com fadas ou bruxas, nem mesmo com “depois do Caminho fiquei mais sensível ou mais solidária ou menos materialista”, sei lá…

Acredito que nenhuma mudança ocorre bruscamente, nem por um fato isolado. Nós mudamos com o tempo e com as nossas escolhas. Isso leva tempo! Mas, aprendi que cada um é cada um! Para alguns, essas mudanças são claras como as águas do Caminho! Para mim o Caminho deve ter contribuído para alguma mudança no “coração” (pelo menos é o que eu acho ou o que eu desejo).

Fiz questão de entrar em todas as Igrejas que estavam abertas, e as que não estavam parava um pouco em frente, e de alguma forma rezava. Pouco pedi para mim, rezei sempre pelo meu pai, e por outros familiares e amigos já falecidos. Pelos vivos, pedi sempre pela saúde e pela paz da família. E, agradeci, sempre agradeci no Caminho, pelo que já recebi. Acho que aí já vejo, pelo menos, uma pequena elevação do meu lado espiritual, pois desejava agradecer e não pedir. Suseya!

Me atrevo a dar um conselho: Se não for a pé (a pé, é preferência minha e da maioria), vá pelo menos mais devagar. Na pressa se pode deixar de ver muita coisa bonita. Como diz o ditado “quem corre cansa, quem anda alcança”. E, “devagar se vai ao longe”!

Vi pessoas caminhando de várias formas e por vários meios, se hospedando em albergues ou em hotéis de vários números de estrelas ou sem estrelas, fazendo o caminho todo ou parte dele. Não importa como ou o motivo pelo qual fizeram o Caminho. Importa que o fizeram.

Segundo a tradição, todos os que chegam à Catedral da cidade de Santiago de Compostela, independente da forma de transporte, recebem o perdão dos seus pecados. Ponto.

Finalmente, em minha opinião modesta, como diria meu pai, as mudanças e os aprendizados não acontecem de repente e nem terminam de acontecer. No final, continuamos mudando e aprendendo. É um processo que não acaba nunca. E eu, continuo no Caminho, mesmo em pensamentos.

 

Notas:

1) O Livro

O livro “Pés no Caminho, Campo de Estrelas: O Caminho de Santiago pela Galícia”, escrevi para que os amigos e pessoas interessadas no tema possam sentir o Caminho que eu vivenciei, e, quem sabe se motivem a fazer o mesmo. Que seja o caminho físico ou que seja o espiritual. No fim, acho que todos os caminhos levam a uma realização de “quereres”, trazendo de volta “a leveza do ser”, mais sustentável…

Pés no Caminho, Campo de Estrelas – O Caminho de Santiago pela Galícia:  “É um divertido relato da experiência vivida pela autora em sua aventura como peregrina num dos destinos mais procurados do mund0” – jovensescribas.com.br .

2)  Trechos Percorridos: (entre 20 a 30km/dia)

 Dia 1: O Cebreiro à Triacastela

Dia 2: Triacastela  à Sarria

Dia 3: Sarria à Portomarin

Dia 4: Portomarin à Palas de Rey

Dia 5: Palas de Rey à  Arzua

Dia 6: Arzua à  A Rua

Dia 7: A Rua à  Santiago

 



Engenheira por formação, fez doutorado em Madrid onde começou sua paixão pela Europa. Aprendeu, com seus pais, desde criança a gostar de viajar. Adora viajar e diz que "sem viajar não me reconheço"! Escreve sobre suas viagens pelo mundo afora de forma divertida e leve. Escritora por hobby, além desse blog tem dois livros de viagens publicados.

Comentário para Caminho de Santiago pela Galícia – Relato Resumo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Carregando...
%d blogueiros gostam disto: