Dia 2) De Roncesvalles a Zubiri
Acordamos e ainda chovia. Juntamos nossas roupas, já secas, e rearrumamos nossas mochilas. Depois do dia anterior altamente cansativo, resolvemos dormir um pouco mais. Quando fomos tomar o café da manhã, éramos praticamente os últimos. Por sinal, um ótimo desayuno.
Saímos do hotel e fomos visitar a igreja de Roncesvallles.
Como já tinha dito, a cidadezinha se resume a um conjunto de casas e obras arquitetônicas* incluindo o monumental pequeno complexo do antigo monastério** (o qual parte dele, agora também era nosso hotel) e sua igreja. Na visita encontramos mais alguns peregrinos…
*Como conjunto urbano, Roncesvalles (Orreaga em basco) tem três pontos que se constituem como centro de um espaço contínuo. O primeiro é o aceso, que tem como pano de fundo a Casa Prioral e o Museu-Biblioteca. O segundo núcleo do complexo fica num espaço quase fechado que forma uma grande praça retangular. Está em vários níveis, ocupando o superior as Casas dos Beneficiados. O terceiro espaço é outro pátio retangular cercado por casas onde se destaca o Hospital construído no começo do século XIX e hoje é o albergue juvenil”.
**”O monastério de Roncesvalles, fundado no século XI, sempre teve grande importância no Caminho de Santiago. É famoso pelo trato que recebem os peregrinos que ali se alojam”.
Saímos da pequena vila em direção a Zubiri, nosso próximo destino. Começamos caminhando por uma estradinha de barro, já coberta de lama das chuvas, mas com muitas frondosas árvores. Tentando despistar alguns trechos lamacentos, seguimos em frente…
A seguir, a paisagem passou a ser muito bonita, campos verdes com cavalos pastando, ovelhas, rios e riachos… Andando com toda essa beleza, e com pouca chuva, estávamos felizes… Até que… Eis que, de repente começam a aparecer riachos pra cruzarmos. As pequenas pontes que existiam estavam parcialmente cobertas pelas águas dos rios e era uma aventura atravessá-las. Mas, rindo seguimos…
De repente, aparece na nossa frente uma ponte totalmente coberta d’água. De nada adiantariam nossas botas impermeáveis (gore tex) porque a água iria cobri-las, iria “bater” no joelho”, quase… O que fazer? San deu um pulo enorme e conseguir chegar do outro lado. Eu não tenho pernas pra isso, e nem posso pular devido à minha coluna. Não me restou remédio a não ser tirar as botas e atravessar por dentro da água super gelada.
Ao chegar do outro lado, meus pés congelavam e eu toda tremia de frio… Mas ainda era engraçado, afinal tínhamos que ter espírito aventureiro! Deu um trabalho danado pra calçar as meias, as botas, e fomos…
Poucos minutos depois, outra ponte coberta pelas águas, do mesmo jeito da anterior. Não era possível! Pra que danado eu tinha calçado as botas? Lá iria fazer tudo outra vez. E dessa, San também teve que participar do ritual, pois o riacho era muito largo pra pular, jejeje!
Passadas as aventuras, chegamos numa linda cidadezinha chamada Burguette.
Li que lá tinha uns croissant(s) de chocolates muito bons, mas no primeiro bar-café que paramos não os encontrei. Tomamos uns conhaques pra nos aquecer, e enquanto isso ia chegando o povo local. Era um sábado e todos se juntavam nesse pequeno café-bar. Homens, mulheres e crianças. Visitamos um pouco a linda cidadezinha e voltamos ao Caminho.
Daí em diante entramos em novas trilhas e passamos por mais alguns pueblos e locais interessantes, como: Espinal (Aurizberri em basco) um pueblo de 1269; Alto de Mezkiritz, um lugar com muitas árvores e onde se deve rezar uma “Salve Rainha” na imagem de Nossa Sra. de Roncesvalles. Eu esqueci como era uma Salve Rainha, rezei uma “Ave Maria” e acho que deu certo! Ainda passamos por Bizkarreta e Alto de Erro, onde tem um mirante. Uma boa subida até o Alto do Erro, e o mirante não era lá essas coisas, se bem que com névoa…
Mas, depois desses locais, nem conto! Nem fotos mais tiramos, pois tantos foram os desafios que tivemos pelo caminho. Muita lama, muita mesmo. Tanta, que quase choro de verdade, ou chorei, acho. Botas atolando, nós nos atolando, andando a 0,0001 km por segundo, um horror!
Já havia trilhas alternativas nas encostas, mas pra usá-las tínhamos que subir quase caindo, com troncos, galhos, e até moscas e outros bichos voadores pelo caminho. Mesmo nas trilhas alternativas havia lama. Não sabíamos o que era pior: “Se corresse o bicho pegava, se ficasse o bicho comia”. Tive crises de arrependimento, crises de choro, crises de cansaço, um monte de crises..
Nesse ponto encontramos um jovem peregrino, acho que australiano (ou era alemão?), que conseguia andar bem pela lama, embora tenha reclamado bastante. Audis, era seu nome, mais parecia um carro Audi de tão rápido que andava, mesmo em circunstâncias tão “lamacentas”. Disse que participava de corridas de aventuras e coisas do gênero. Pudera!
Mas, conseguimos chegar, enfim… Em “trancos e barrancos”, ou seja, entre troncos e barrancos, chegamos! Ufa!
Em Zubiri
Chegamos em Zubiri, um pequeno povoado muito bonitinho, com uma linda ponte (Puente de la Rabia). Zubiri quer dizer “Povoado da Ponte”.
Fomos direto ao nosso hotel, simples mas charmoso e com um menu de primeira. Cumprimos nosso ritual de lavar roupas, tomar banho, etc. e tal, e fomos jantar. Um jantar magnífico!
No dia seguinte, depois de um bom desayuno, partimos para nossa 3ª etapa. Saímos pela ponte, onde ainda ficamos a admirar um pouco a natureza com o rio e as casas nas suas margens…
E, depois, se quiserem, já podem ler os relatos dos outros dias:
Dia 4) De Pamplona a Puente de la Reina
Dia 5) De Puente de la Reina a Estella
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