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CANAL DU MIDI BY BIKE: O 1º Dia – de Toulouse a Castelnaudary

A ida: Natal-Toulouse

Bagagem já é uma coisa complicada, imagine chegar ao destino sem ela! Como não se pode mais confiar nos aviões hoje em dia, optamos por um vôo com algumas horas de diferença entre a chegada em Lisboa e a saída pra Toulouse. Chega de perder malas, ainda mais as nossas bikes…

Os motivos que me fizeram fazer essa viagem, e mais alguns detalhes do plano e do próprio Canal, já escrevi aqui, nesse blog.

Em Toulouse

Chegamos à noite. A primeira coisa que fizemos foi montar nossas bikes, que estavam “em parte” desmontadas nas suas respectivas malas-bike.

A primeira bike a ser montada era a minha, e eis que… Algo não se encaixava. Simples, veio quebrado um pedacinho de não sei o quê e que sustentava a corrente. Um negócio de ferro! Vai jogar mala assim “nos infernos”, como se pode quebrar isso?

O resultado é que passamos o dia seguinte numa “via crucis” de oficina em oficina procurando a tal peça. E isso, empurrando a bicicleta pelas ruas de Toulouse. Boa forma de conhecer a cidade e de fazer exercício físico (à força!).

Percorrendo Toulouse em busca do conserto da bike

Já pensando em comprar outra bicicleta, finalmente encontramos um “anjo” que se propôs a telefonar pra mil lugares até conseguir achar a tal peça. Encontrada a loja, fomos lá e compramos a peça, e o tal mecânico-anjo consertou. Isso já no começo da noite. Ainda bem que tínhamos reservado esse dia pra descansar (ô descanso!) e só iríamos começar a pedalar no outro dia mesmo. Passado o susto, fomos jantar e dormir.

A oficina. O “anjo-mecânico” que consertou minha bike

Em frente a loja-oficina com minha bike consertada

O primeiro dia de pedal: de Toulouse a Castelnaudary (10 de julho de 2010)

Acordamos para o primeiro dia de pedal dispostos e alegres. Eu, um pouco apreensiva, mas feliz.

O Canal visto da janela do hotel

 As bikes estavam guardadas no quarto do hotel. Escolhemos um hotel Ibis, a beira do canal, bem onde o mesmo começa. Tomamos nosso petit dejeuner e paramentados de “pedaleiros”, lá fomos nós.

A malinha de roupas que levamos na bike

Nossas bikes “prontas” pra saída…

A proposta do primeiro dia era sair de Toulouse e chegar a Castelnaudary, a terra do cassoulet. Segundo as pesquisas, daria em torno de 65 km. Optei por essa cidade porque eu “queria porque queria” comer um cassoulet no lugar mais famoso, berço dessa iguaria. Imaginem que estávamos em julho, um calor danado na Europa, mas…

Saímos perto das 9 horas da manhã e chegamos em torno das 3 da tarde. Todo dia era praticamente o mesmo. Em alguns dias saíamos um pouco mais tarde… O calor não era problema, pois o Canal de Midi está quase que inteiramente à sombra de árvores enormes, centenárias, chamadas platanes.

Eu e San, no Canal à sombra das “platanes”

 Começamos a pedalar ao longo do Canal, desde seu inicio. Descemos por um pequeno barranco de areia, meio pedregoso, e pegamos a primeira parte do trecho que beira o canal (o tal towpath ou chemin de halage).

 Os primeiros quilômetros eram de areia. Cruzamos Toulouse por esse “caminho” e só muito mais lá na frente encontramos o trecho de asfalto. Dos 240 km que beira o Canal du Midi (mais uns 30 do Canal du Rhône), apenas 62 são asfaltados. O resto é areia, barro, pedra, cascalho, raízes, sei lá mais o quê. Mas nada muito complicado. É tranqüilo. E, o trecho é muito bonito, vez por outra vemos campos de girassóis…

Campos de Girassóis

 Nesse dia, cruzamos parte do Midi-Pyrenées, no sul da França, e chegamos a região de Languedoc-Roussilon. No nosso plano iríamos parar em umas três cidadezinhas antes de chegar à nossa meta. Plano refeito: as cidades não ficavam “logo ali” na beira do Canal. Tínhamos que sair do Canal, pedalar uns 5 km ou mais e depois voltar, o que significava em torno de mais 10 km por cidade, na maioria das vezes cidades “plantadas” em cima de montes, morros, sei lá…

Também, passamos “batido” na primeira cidade! Sem sinalização. Só depois percebemos que a cada écluse tem saídas pelas laterais do canal, que “desembocam” numa estrada e de lá se chega às cidades…

Ah! Tem um lance interessante. Às vezes se pedala pelo lado direito e outras pelo esquerdo. Os livros diziam que não havia sinalização, mas nos forneciam uns “guias” pra sabermos em qual lado deveríamos pedalar. Não precisou. Era tudo muito óbvio!

 Segundo minhas pesquisas, se pedala pela margem em que o rio corre naquela direção em que se vai. Tecnicamente o canal corre a partir do Seuil de Narouze (o ponto mais alto) para Toulouse numa direção e para Séte em outra. Bem, o fato é que todos pedalam na mesma margem e diversas vezes encontramos “bikeiros (leia-se “baiqueiros”) vindo em direção contrária à nossa, muitas das quais em trechos infinitamente estreitos, em que se tinha que conceder passagem ao outro ciclista.

Passamos por diversas écluses, algumas ainda em Toulouse. Umas muito simples e outras que eram verdadeiras obras de arte da engenharia. Ao sairmos de Toulouse, a paisagem natural ficou mais bonita. Árvores e mais árvores quase formando um arco, com o canal ao meio. Aqui e acolá, pequenas vilas apareciam ao longo do canal ou se avistava ao longe.

Uma écluse!

Muitos barcos navegando, o que tornava a paisagem mais bonita. De lanchas e iates modernos à péniches (tipo de barco típico e mais antigo), encontrávamos pelo canal. Todos a se cumprimentar com um Bon jour, fosse de bike ou de barco. Poucos a pé. Pelo que percebemos a maioria dos que estavam em bike eram franceses. Alguns ingleses ou de outra nacionalidade. E, nós brasileiros nordestinos, nesse meio!

Barcos no Canal..

A minha primeira queda!

Aqui em Natal e arredores nunca levei uma queda de bike. Mesmo em trilhas “complicadas” (pra mim!), tinha sempre cuidado pra não cair. Aliás, morro de medo de queda! Mas, como tudo na vida tem uma primeira vez… Pois bem, eu ia lá pedalando pelo sul da França a beira do canal e feliz da vida, pensando: “que fácil que é pedalar nesse Canal!”.

Rindo por dentro, subi numa pequena “rampa” de cascalhos (a cada écluse tem uma pequena subida para quem vai pelas margens). Pra passar pela “rampa” tinha que cruzar, na subida e na descida, por uma espécie de porteira  “meio” aberta, dessas que você tem que fazer um ziguezague pra entrar e sair. Lá subo eu toda “crente que abafo”, mas na descida a bike “embalou” e foi “com tudo” e nessa “embalada” eu desci entrando no ziguezague que me jogou em cima de uma enorme raiz de platane, e “puft”, caí! Que droga! Excesso de confiança dá nisso! Como consolo, a primeira queda foi na França. Chique, né?

As cidades e as obras de engenharia e arte ao longo do Canal

Bom, nesse primeiro dia passamos (de perto ou de longe) por diversas vilas ou cidades, como: Port Ramonville St Agnes; Castanet-Toulosan; Doneville; Mongiscard; Bazieges; Aigues Vives; Sanglier; Montesquieu Lauragais; Villevigne; Gardouch; Villefranche-Lauragais; Avignonet-Lauragais; Port-Lauragais: La Ségala e finalmente Castelnaudary.

Quase nenhuma ficava nas margens do canal. Optamos, então, pra conhecer apenas Avignonet-Lauragais, já que eu tinha simpatizado mais com ela, pelas fotos.

Eu, saindo do canal para conhecer Avignonet

Para chegar a Avignonet, tivemos que sair do canal e pedalar uns 3 km até a parte baixa da cidade, depois subir (e que subida!) até a parte histórica da mesma. Mas, valeu à pena. Lindinha a cidadezinha. Vale ressaltar que ao sair das margens do canal era um calor “de matar”. A sorte é que havia uma brisa refrescante.

Em Avignonet

Em Avignonet

Nesse trecho, como já disse, cruzamos por diversas écluses, na verdade cerca de vinte. E dois aquedutos. A cada écluse, se pode ver a casa da pessoa que “toma conta” da mesma, e que ajuda os barcos a passarem. Em muitas delas tem um café-bar.

Uma casa de um trabalhador (lockkeeper) de uma écluse

 Ao longo do canal tem também algumas áreas de serviço pra piqueniques. São arborizadas, com mesas, com banheiros, etc. e tal.

Perdemos de subir até o Obelisco de Paul Riquet, porque as informações inexistentes nos confundiram, e terminamos indo pro outro lado sem ver o tão famoso obelisco. Mas, a maioria do pessoal que vinha de bike passou também “direto”. Depois percebi umas pessoas a pé subindo pra onde deveria estar o obelisco.

 Nesse trecho, próximo ao Obelisco é onde fica o Col Naurouze ou Seuil Naurouze que é o mais alto ponto do canal (189,43m). A água que supre o Canal vem da Montanha Negra (pela Bacia de San Ferrol) e entra no canal nesse ponto.

 Em Castelnaudary

Depois de pedalar 70 km, chegamos à nossa meta do dia. Eram umas 3 horas da tarde. Castelnaudary está no departamento de Aude e já na região de Languedoc-Roussillon. A cidade é conhecida pelo seu cassoulet (feijão, confit de canard, porco,salsichas, etc.).

Castelnaudary

Chegamos ao mesmo tempo que umas canadenses que havíamos conhecido pelo caminho, perto do tal obelisco. Mãe e filha vieram do Canadá só pra fazer esse passeio, e coincidentemente ficamos no mesmo hotel. O hotel ficava logo na beira do canal. Um charme, o “Hôtel Du Canal”.

Café da manhã nos jardins do hotel em Castelnaudary. A beira do Canal.

Tínhamos reserva, mas os “sabidinhos” nos deram um quarto sem ar. Nada disso, reservamos com ar! Ah, pardon! Hummm. Ok, afinal nos deram um bom quarto. Nos instalamos e fomos conhecer a cidade. Muita bonita, mas com o calor que tava, voltamos ao hotel. Ficamos degustando uma bela garrafa de vinho branco geladíssima numa taça super fina, e só quando o sol baixou saímos outra vez.

Jantamos num restaurante recomendado pela proprietária do nosso hotel, que disse que lá tinha o melhor cassoulet.

No restaurante comendo cassoulet

Tava tudo muito bom, e depois de mais vinho e de Santiago já “íntimo” do garçon que aprendeu umas palavras em português (não as mais belas, claro), comemos um delicioso creme brullé e retornamos ao hotel, admirando as ruas e os canais da cidadezinha.

Bon soir!

OBS. Para ver todos os dias de pedal, clique em cada dia: dia 1, dia 2, dia 3, dia 4, dia 5 e dia 6.

E se você quiser saber “como tudo começou“, de onde surgiu a ideia dessa viagem de bike, etc e tal, clique aqui!




Engenheira por formação, fez doutorado em Madrid onde começou sua paixão pela Europa. Aprendeu, com seus pais, desde criança a gostar de viajar. Adora viajar e diz que "sem viajar não me reconheço"! Escreve sobre suas viagens pelo mundo afora de forma divertida e leve. Escritora por hobby, além desse blog tem dois livros de viagens publicados.

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