Não me lembro bem quando começou minha paixão por pequenas cidades. Vilas, vilarejos, pueblos, cidades pequenas, enfim…
Primeiro quero esclarecer algumas coisas: Nem todas as cidades pequenas, para mim, são atraentes. Nem todas as cidades pequenas, que me atraem, são tão pequenas. E, não sei como separar, nem sei se é possível, mas dentro dessas cidades pequenas e sedutoras, existem vários tipos. Algumas não passam de pequenas vilas rurais, mantendo quase intacto seu lado plueberino, seu lado antigo, suas tradições… Outras têm um charme especial, antigas e modernas ao mesmo tempo, mais urbanas… É difícil explicar, eu sei, mas tá tudo fotografado na minha mente..
Pra facilitar a comparação entre esses tipos de cidades pequenas, vou tentar dividi-las em dois (existem mais, estou simplificando, porque já é complicado transcrever as fotografias da minha mente…). Um deles é como se fosse um típico boteco carioca, tudo simples, mas gostoso, comidas mais rústicas, mais “do povo”, delícias… Outro tipo é como se fosse uma delicatessen, um daqueles restaurantes pequenininhos e chiques, poucas mesas, com um chef, e onde impera uma gastronomia super!
Outra coisa: ter paixão por pequenas cidades não elimina minha paixão pelas grandes. Adoro o charme e, até o ruído próprio, de cidades como o Rio, Nova York, Paris e Madrid, entre outras.
Voltando ao começo da minha paixão pelas “pequenas”, que não me lembro quando… Mas, tenho alguns lugares na memória que me fazem crer que isso começou quando morei na Espanha, lá pelos fins dos anos 80, por ocasião de meu doutorado.
NA ALEMANHA E NA ESPANHA:
Tenho claro, em minhas paisagens mentais, dois momentos especiais. Lembro-me de umas estradinhas vicinais na Alemanha, um hotel-casa ou era uma casa-hotel enorme, perto de Munich. Daí em diante sempre pensei em fazer outras viagens de carro por essas estradinhas, pra encontrar mais dessas paisagens e daquelas vilas típicas.
Me lembro também de uma viagem que fiz ao norte da Espanha. A primeira cidade que me vem à cabeça, e dessa eu me lembro sempre, é Santillana del Mar. Minha mente e minha alma recordam sempre de uma rua, de um hotel e seu bar com pedras, que faziam o lugar bucólico se parecer com “antigamente”. Pertinho delá, San Vicente de la Barquera…
Depois, me lembro de ter me deparado com barcos, no mar de La Coruña. A primeira visão, ao longe, mais parecia uma pintura de Renoir. No norte da Espanha (Cantábria, Galícia…) tem milhares de cidades pequenas, cada uma com seu charme especial.
Pertinho de Madrid tem várias cidadezinhas atraentes. Chinchón e Toledo são duas delas, e, que se formos vivenciá-las num dia comum, com poucos turistas, também vale à pena. É sentir o passado na pele. Chinchón era uma cidadezinha frequentada por Hemingway. Pra facilitar, podemos botar na lista todas as cidades e lugares que Hemingway gostava de ir. Assim, é moleza!
EM OUTRAS CIDADES NA EUROPA (França, Bélgica, Reino Unido…)
Lá pela década de 90, conheci uma linda cidade no norte da França, perto de Paris: Tours. Fui a um congresso por lá e pude me sentir um pouco à parte do comum, quando caminhava por aquela cidade!
Ah, mas antes, quando ainda coletava dados pra minha tese, conheci muitas cidades legais no Reino Unido. Cidades ou partes delas. O verde das estradas que ligam uma cidade a outra, suas igrejas com seus cemitérios bucólicos (que em vez de amedrontar dão às cidades ares de filmes), as casas… Na Bélgica, então, tem uma que merece ser citada: Louvain (“a velha”), não a tecnópole Louvain-la-Neuve. Brugge é outra linda cidade na Bélgica. Teria muita história pra contar sobre cada uma delas. Talvez, em um outro dia…
NOS EUA:
Em 2006 conheci uma linda cidade nos Estados Unidos: Annapolis. Não, não é a Anápolis brasileira não! Essa fica perto de Baltimore e DC. Voltei lá umas tantas vezes! Não consigo descrevê-la, mas digo que me apaixonei por ela a ponto de sonhar em morar por lá. Tem que se ir lá pra ver e sentir a beleza! Próximo a ela, conheci Saint Michel uma pequena vila de pescadores, lindinha. Dizem que é como se fosse Annapolis antigamente. Hoje em dia, Annapolis tem diversos restaurantes, dos mais variados tipos, e excelentes. Uma gastronomia fantástica. É também chamada a capital do barco a vela, e, pertence ao Patrimônio da UNESCO.
Em 2009 fui no Napa Valley. Por lá, fora as maravilhosas vinícolas, tem várias cidadezinhas charmosas, como Santa Helena.
NO CAMINHO DE SANTIAGO
Em 2009 fiz um trecho do Caminho de Santiago, pela Galícia, e adorei cada passagem, cada estradinha, cada vilarejo. Destaco uma: “O Cebreiro”, uma antiga aldeia celta. Do alto de suas montanhas se pode ver uma magnífica paisagem. O pueblo em si, já vale à pena conhecer. Casas de pedra, ruas de pedra, ladeiras de pedras. Uma igreja belíssima com um “Santo Graal” gallego… Cheias de lendas e histórias. Realmente uma linda cidadezinha. Vale ressaltar que nessas cidades sempre se encontram bons restaurantes ou bares! No Cebreiro, comi “pulpos a cachelo” que eram uma beleza!
O que tem de belo no Caminho são todos os caminhos, toda a natureza… E, cada pueblo que se encontra tem seus encantos pessoais. Sem falar nos típicos hotéis fantásticos, ou seja, casas rurais. Na Galícia tudo é maravilhoso. Se passar por um pueblo chamado “A Rua” (na verdade é só uma rua mesmo), super charmoso, não deixem de ir numa casa rural por lá (O Acivro).
NO SUL DA FRANÇA:
Em 2010, fui ao sul da França. E, de bike, eu e meu mon mari San, percorremos o Canal de Midi, desde Toulouse até Sète, uma linda cidade no mediterrâneo com ares de Veneza, mas, francesa. Ao longo do Canal vimos muitas cidadezinhas lindas. Dessas, recomendo algumas. Castelnaldary, com seus lindos canais e flores; Carcassonne (falo da parte que fica nas muralhas: La Cité), que já é mais conhecida, mas a quantidade de turistas, às vezes, quebra o “clima” de romance; Homps, cidadezinha charmosa que dá vontade de ficar sentada num banco só olhando a vida passar (onde tem um restaurante ótimo: En Bonne Companie); Vias (somente seu centro histórico, porque a praia é horrível), com um excelente restaurante e donos simpaticíssimos, Le Vieux Logis, e uma pracinha fantástica.
No meio do Canal, tem também Trèbes, com suas flores e o canal, que acaba por dar mais charme a essa cidade. Ah, e perto de Sète, já no mediterrâneo, tem Bouzigues com suas famosas ostras, e Marseillan, um charme raro, claro! Têm outras tantas, que vale a pena parar e curtir essas pequenas cidades.
DE VOLTA À ALEMANHA E NA SUÍÇA
No fim de 2010, voltei à Alemanha. Dessa vez era inverno. As lindas estradas vicinais cheias de verde, com suas casas típicas alemãs que completavam o quadro, se transformaram em lindas estradas nevadas, com seus típicos telhados de suas típicas casas cobertos de neve. Tivemos uma experiência fantástica na Bavária, numa pequena cidade chamada Bodenmais e em uma fazenda com magníficas paisagens noutra pequena cidade chamada Lindenau. Florestas de pinheiros com neve… É demais!
Me lembrei que há uns vinte anos atrás quando, também num inverno, passamos por estradas na Áustria e norte da Itália com pinheiros cobertos de neve. Essa foi uma das fotografias que ficou na minha memória e que voltei a rever agora “ao natural”.
Perto de Berlim tem outra cidade legal, Cottbus. Nessa tivemos, como um “plus”, o calor de família. Clima natalino maravilhoso, e a neve nos fez pensar que estávamos dentro daqueles cartões de Natal de antigamente! É legal quando temos amigos na cidade onde estamos conhecendo ou reconhecendo. É outra história!
No fim de 2010, fomos também numa cidade charmosíssima na Suíça, St.Gallen, onde temos amigos que conhecemos no Caminho de Santiago. St Gallen é também patrimônio da UNESCO, em especial sua Biblioteca que pertence a Abadia. Brindamos 2011 com champanhe na praça da catedral com milhares de pessoas, e nossos amigos. Prost! As cidadezinhas nos arredores de St Gallen também são cheias de charme. Antes que já havia ido à Suíça, e me encantei particularmente com Lucerna e o centro de Berna.
Na Suíça fomos também a outros lugares “de charme” como Teufen, Appenzell e especialmente o Monte Santis. Esse último, lá de cima, nos dá uma sensação indescritível. Uma paisagem magnífica!
E OUTRAS TANTAS…
Tem ainda muita cidadezinha que ainda quero conhecer e outras que quero rever. Tem uma reserva ecológica no Chile, Huilio-Huilio, que me pareceu fantástica numa reportagem. Tem pequenos lugares na Toscana e no sul da Itália, que vejo nos filmes e me dá vontade de me meter dentro da TV ou da tela do cinema… Na Grécia, anos atrás, passei muito rápido pelas ilhas de Mikonos e Santorini. Quem sabe, voltar por lá com mais calma…
Tem até cidade grandes que um pedacinho delas parece uma cidade pequena cheia de charme… Tem cidadezinhas modernas e outras super rurais. Cidades de pedras com flores, no verão e primavera dão um charme especial a esses lugares. O verde dos bosques e as pedras formam uma boa parceria. No inverno, a neve tem seu encanto. No outono, as folhas amarelas caindo ou caídas emprestam mais charme a esses pueblos. Pessoas sem pressa e simpáticas. Gente com histórias pra contar.
Pueblos mais antigos, cidades mais “atuais”… O medieval lutando com o contemporâneo. Não uma luta de espadas, com cavaleiros montados em seus cavalos, daquelas que às vezes esperamos nos deparar quando dobramos uma esquina, ou descemos uma ladeira, de uma cidade como Toledo. Mas, uma luta fraterna, uma dança de capoeira talvez… São bonitas todas elas, sejam medievais ou modernas. Com lagos, mar, canais, rios ou montanhas. Ou mesmo a beleza das ruas em si, com ou sem ladeiras. São atraentes, todas. E têm, a sua maneira, uma gastronomia pra ninguém botar defeito!
Ah, essas pequenas cidades pequenas, cheias de charme e, quiçá, aventuras ocultas…
E numa viagem que fiz ao sul da França, me perguntaram se não iríamos também a Paris. Falamos que dessa vez não. Seria somente o sul da França. Aplaudiram!
Bravo!
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