Como olhar pra Cuba? Algumas pessoas veem apenas o que querem ver. Tem umas que só veem a pobreza e outras que só veem os benefícios da revolução. Ainda há as que só veem a beleza das praias, do azul do caribe, e outras que gostam de curtir suas calles e prédios históricos. Ainda há aquelas que preferem seguir um caminho “Hemingwayano” e se deliciar com os mojitos da Bodeguita e com os daiquiris da Floridita (parece bom, né?)! Bem, eu resolvi ver todo o conjunto de opções…
Olhei pra uma Cuba com suas belezas naturais, seus prédios belos (embora um tanto decadentes), e, também um lado pobre, mas ao mesmo tempo pensando se essa não foi a forma escolhida para não existir miseráveis… Em outras partes do mundo, a divisão clara da linha da riqueza e da pobreza não deixa alternativas de se ter outros tipos de liberdade.
Não se pode viajar? Não, essa opção existe pra poucos em Cuba, mais pra pessoas do meio acadêmico, pra músicos… Mas se pode comer. Se pode adoecer, porque tem médicos e remédios à disposição.. Em outros lugares, em que se pode viajar (pode? e se não se tem dinheiro, como é isso?), alguns não tem liberdade pra comer, porque não tem como comprar quase nada… Falta trabalho, falta grana… Ôps. Nem quero discutir isso agora não.
Pois é, nada é perfeito. Então, nada de discutir o lado político porque vamos longe nessa discussão… Até porque sabe-se que tem gente que foge desse “paraíso” e isso deve ter a ver com o lance de que “nem só de pão vive o homem…”.
“Após quase cinco décadas de governo de Castro, Cuba exibe seus melhores êxitos no campo social, tendo conseguido eliminar o analfabetismo, implementar um sistema de saúde pública universal, diminuir significativamente as taxas de mortalidade infantil e reduzir o desemprego … No cenário de crise, o governo de Fidel flexibilizou a economia, permitindo, dentro da estrutura socialista, a abertura para atividades capitalistas. A principal delas é o turismo, que deu uma injeção de capital ao país , mas também gerou grandes problemas…. …No campo político, no entanto, Cuba segue como uma ditadura do Partido Comunista, alheio às reformas democráticas…” (fonte aqui).
Havana, 1986
A primeira vez que fui a Havana, fui a um congresso. Em 1986. Naquela época o Brasil não tinha relações com Cuba e tivemos que pegar um vôo até o Panamá, dormir um dia por lá e depois pegar outro vôo pra Cuba. O estranho era que, com tudo isso, o CNPq, órgão do governo brasileiro, pagava as passagens dos professores que tinham trabalho pra apresentar lá…
Na época, eu estava encantada com o comunismo e tentei ver somente o lado bom da revolução. Mas, no fim das contas, com alguns colegas brasileiros fui também passear pela velha Havana e curtir os prazeres cubanos.
O mais legal foi que assistimos a um show de Pablo Milanês no pátio da Universidade, e grátis! Com um monte de cubanos, ficamos lá a curtir a música desse cantante genial!
Teve uns lances que não pude deixar de observar. Ficamos num hotel cinco estrelas. Nesses, os cubanos não podiam nem entrar. Somente os que trabalhavam lá. Assim, alguns jovens pediam pros turistas que lhes comprassem uns jeans ou coisas que eles não tinham acesso.. Fiquei meio chocada ao me deparar com uma realidade insperada. Porque eles não se satisfaziam com as roupas “cubanas”? Será que não percebiam que tinham outras coisas que não se tem em outros países? Enfim, não gostei de ver isso… Ou, não gostei de captar que tudo na vida tem seu lado positivo e seu lado negativo..
Uma coisa é certa: a alegria cubana é contagiante! Suas músicas, suas danças, tudo isso faz com que a gente também entre na onda de contentamento, no clima de festa! Percebi isso desde aquela primeira vez…
Havana, 2002
Quase 20 anos depois da minha primeira visita à Cuba, voltei lá. Recebi um convite para dar uma palestra num Seminário Internacional de Informação & Conhecimento, e, claro que aceitei. Assim lá fui eu, dessa vez como convidada, com o Brasil já se relacionando formavelmente com Cuba.
Pra minha felicidade total, fiquei hospedada no Hotel Nacional. Chique demais esse hotel que lembra o Copacabana Palace!
O Seminário foi ótimo, minha palestra idem, e ficar no Hotel Nacional, foi melhor ainda! Curti tudo o que pude desse hotel. A vista, os suntuosos salões, os bares e restaurantes. E, como não podia deixar de ser, os mojitos e o rum havano envelhecido. É, pode não combinar com o estilo de vida cubano, mas combinou com o meu desejo de ficar num maravilhoso hotel antigo e lindo como esse…
Bom, nessa época fiquei amiga de alguns cubanos, entre eles o presidente do congresso. Eduardo, muito legal, me apresentou sua família e alguns amigos. Com seu velho fiat uno, o meu novo amigo, também diretor de um importante órgão público de pesquisa sobre inteligencia empresarial (Biomundi), me transportou a uma Havana pra mim antes desconhecida!
Quando acabou o congresso, resolvi passar mais uns dias por lá. E, como minha grana não dava pra me manter no Nacional, me mudei pra outro hotel, mais simples mas super charmoso, no centro de Habana Vieja. O “Ambos Mundos” guardava entre seus quartos, uma suíte usada por Hemingway. Embaixo, um piano bar, com seu charme especial, nos transportava a outros tempos…
Só que nem tenho fotos dessa época. Acho que me via como “palestrante” e não como turista, daí nem levei minha câmera… Talvez até tenha alguma foto “sacada” no congresso, mas não achei…
O hotel, localizado no centro, a poucos metros do Bodeguita del Médio e do Floridita, facilitou minha ida a esses bares como se fossem familiares e rotineiros. Passeava a pé pelas ruas da velha Havana e a cada música que ouvia, parava e tomava um mojito ou uma cerveja ao som alegre dos cantantes cubanos! Foi ótimo! Muy bueno!
Havana e Cayo Largo, 2003
Havana
Nesse ano, fui com meu irmão João e minha cunhada Lygia. Tínhamos em mente “estudar” a possibilidade de uma parceria em “business” com Cuba, que depois desistimos. Mas, na época, com meu conhecimento com pesquisadores/consultores cubanos, em Inteligencia Empresarial (excelentes!), tivemos uma assessoria de primeira. Vale lembrar que, nessa época, Cuba já havia começado suas primeiras tentativas de realizar parcerias com empresas privadas de vários locais do mundo!
Bem, ficamos hospedados no Hotel Nacional (Que bom, outra vez!!!). E, fora o que tínhamos a fazer “de trabalho”, nos divertimos pra danado! Mas, antes de falar em diversões, devo dizer que aprendi muito e, essa viagem em muito contribuiu pra meu trabalho de pesquisa, tanto em termos acadêmicos quanto em termos de consultoria empresarial.
Aqui vale um parêntese: Os doutores/PhD cubanos da Consultoria Biomundi, em 2002, ministraram um curso teórico-prático de Inteligência Empresarial para a UFRN e CTGÁS-RN. Excelente! E, aqui se pode ver, um dos trabalhos resultantes do curso e apresentado em congresso.
Voltando às diversões, passeamos bastante pela velha Havana, entre mojitos na Bodeguita e daiquiris na Floridita. E, sempre ao voltar para o “nosso” Hotel Nacional, com música e músicos alegres como pano de fundo, curtíamos a paisagem do Malecón com mais mojitos ou outros drinks de dar “água na boca” pra não dizer álcool na boca!
Nesse jantar demos uns dólares pra o marido da nossa amiga comprar umas cervejas. Ele nos devolveu quase toda a grana e ficou com o equivalente a comprarmos apenas uma ou duas, em locais turísticos. Ficamos sem entender, mas o carinha voltou com bem umas vinte cervejas!
É por isso que o salário deles dá pra tudo. O que consideramos um salário “de nada” dá pra eles pagarem aluguel (quando o imóvel não é próprio), comprar comida e roupas… E, sobra! Lógico que roupa hecha en Cuba! Porque na verdade, os preços dessas coisas são “falsos”, ou seja, adaptados ao valor dos salários, pois estes se transformados em dólar não vão muito além dos vinte e cinco dólares. Só? Só, mas dá pra se manter bem! Aluguel custa apenas um dólar e pouco, uma cesta básica também por aí… Remédios, médicos, escolas, e outras necessidades, eles têm grátis. Pagos pelo Governo! Entretanto, com a grana que recebem, viajar só dentro de Cuba!
Fiquei meio constrangida com o fato de que o pessoal acadêmico, apesar de ter vantagens em viajar pro exterior (com tudo pago), não tem condições de comprar nada em lojas de turistas. Nem em Cuba, nem fora. Enquanto que o pessoal que lida diretamente com turistas tem.
Daí fica um lance estranho: tem mais grana quem não é médico, engenheiro, enfim, quem não tem formação superior. Porque taxista e garçom recebe gorjeta em dólar! Pois é! Termina que quem tem mais conhecimento formal fica “no prejuízo”… Bom, depende dos valores de cada um, claro!
Cayo Largo
Voltando a nós… Nessa viagem, fomos também a Cayo Largo, uma pequena ilha cubana. O avião super pequeno, tinha “janelas sim, janelas não”, entre os assentos. Minha cunhada teve a “sorte” de pegar um assento sem janelas, e haja medo! Eu, que sempre tenho medo de aviões (a despeito de viajar sempre, seja a trabalho ou a turismo), nem liguei muito. E, na volta, depois de vários runs, o vôo nos pareceu fantástico! Medo de quê, mesmo?
Com direito a Passeata!
Ah, faltou falar de uma coisa importantíssima! Dos nosso “aps” do hotel Nacional em Havana, pudemos ouvir um discurso de Fidel as três da matina. E, em seguida uma enorme passeata, da qual participamos também. Imaginem que adentramos na mesma, conseguimos cada qual uma bandeira, e entoamos junto com os cubanos o hino “Viva Cuba”, Viva”!!!
Havana e Varadero, 2008
De novo em Cuba! De novo em um congresso (Congreso Internacional de Información)! Desta vez pra apresentar um trabalho, resultante da tese de um aluno, Gabriel, que também foi…
Nesse lance de “mesma coisa”, sempre íamos tomar uns daiquiris no Floridita! Na Bodeguita, também íamos, mas nem todo dia! Mas, saindo da “mesmice”, cada dia tomávamos um rumo diferente. Um dia, passear no Malecón (calçadão à beira-mar), outro, numa parte da velha Habana, já em outro dia, passear noutra parte… E, assim seguíamos dia após dia. Uma semana inteira! E cada dia e cada noite dessa semana foram aproveitados ao máximo.
Comigo, foi também Santiago (não de Cuba, e sim mi marido). Ele, pra passear. Eu pra assistir ao congresso e, obviamente, passear também! Fazíamos assim: Eu ficava no Congresso até 1 da tarde (que coincidentemente eram as palestras mais importantes pra minha área de estudo e pesquisa) enquanto ele ia passear pelas praias e ruas habaneras… Às 13;00h ele voltava, já com uns charutos na boca e uns “runs” adentro, e íamos no ônibus do hotel até Habana Vieja. Todo dia, a mesma coisa!
Assistimos à um show de jazz, jantamos em locais turísticos e não turísticos, fomos na Marina Hemingway, caminhamos horas a pé (do hotel até o Malecón, entre outras caminhadas), andamos de coco táxi, de charrete, de carro super antigo, etc e tal…
Varadero
Mas, ia esquecendo de falar em Varadero. Chegamos à Cuba num fim de semana antes do congresso, e aproveitamos pra ir à Varadero. Fomos de ônibus.
Pra concluir…
E, Cuba vale a pena conhecer, “sim senhor’!