Se toda viagem fosse totalmente perfeita, talvez nem tivéssemos muita coisa para contar e todos os “contos” de viagens seriam muito parecidos. Não? Não sei, mas nessa minha última viagem tivemos que ultrapassar muitas pedras. Por trás de muitas fotos com sorrisos “colgate” existe talvez um conto, meio trágico meio cômico, pra se contar. Não, não chega a tanto. Claro que estou exagerando, mas…
Toda viagem tem seus bastidores: as gafes, os micos, o cansaço, alguma expectativa frustrada… A gente sempre conta meio “por cima” e como isso faz parte, o que prevalece mesmo são as coisas boas, claro!
Mas, dessa vez resolvi contar, “escancarar” os bastidores, porque saiu um pouco da curva normal. Entretanto, leiam apenas como diversão. Tirem suas lições, mas saibam de antemão que no final deu tudo certo. Tão certo que já tou com saudades dessa viagem!
1) De aeroportos e estações de trens
Será essa uma história quase dramática? Ou uma tragicomédia? Acho que nenhuma das duas opções, vamos deixar de exageros (risos).
Tudo começou com um atraso do voo de várias horas… Natal-Lisboa-Zurique: Trecho 1, atrasadíssimo. Trecho 2: conexão perdida e lá fomos nós, mas muito atrasados de acordo com o planejado…
Contamos no post anterior sobre o atraso do nosso voo, e com isso perdemos nosso trem direto de Zurique para Freiburg. Tudo tão bem planejadinho e “deu por águas abaixo”. Bom, mas sem boas opções, tivemos que nos virar. No aeroporto de Lisboa, aproveitamos o tempo pra tomar um vinho…
Ao chegar no aeroporto de Zurique, 11 da noite, não tinha mais trem para Freiburg. Tudo fechado na estação de trem (que fica dentro do próprio aeroporto) a não ser as maquininhas que não vendiam passagens para fora da Suíça.
Graças aos seguranças, todos muito simpáticos e atenciosos, conseguimos nossa primeira compra de uma passagem até a estação central de Zurique. Lá procuramos um hotel por perto da estação, e, apesar de toda simpatia do povo, nenhum hotel tinha vaga (dos pouquíssimos existentes naquela área). O que fazer? Pegar outro trem para chegar o mais próximo possível da fronteira alemã.
Fomos para Basel. Sabíamos que os guichês só abririam depois das 5 da matina e ainda nem era 1… Em Basel, ainda do lado suíco (Bahnhof Basel SBB*), uma dúvida enorme: Vamos até a outra estação que fica do lado alemão – Basel Bad Bf**- (quem sabe lá seria mais fácil), ou esperávamos ali mesmo? Sem nenhum trem (ou bonde) saindo àquela hora pra lá, só poderíamos ir de táxi.
*A estação ferroviária Basel SBB é uma das duas principais estações ferroviárias da cidade da Basileia (Basel), na Suíça e é usado pelos trens operados pela Swiss Federal Railways.
**A Basel Badischer Bahnhof (Basel Bad Bf) já fica na fronteira com a Alemanha. Ela é um hub para trens locais e regionais da Alemanha.
O funcionários da estação (todos simpaticíssimos) nos aconselharam a permanecer lá, mesmo porque o táxi seria caro (eu nem tava aí pra isso, mas…) e, de toda forma, teríamos que esperar até às 5 ou 6 da manhã para a partida de um próximo trem até Freiburg.
Isso tudo estava me deixando louca. Com sono, cansada e numa estação de trem cheia de adolescentes embriagados (isso mesmo, incrível o número de jovens embriagados que vimos em diversas estações ferroviárias), sem ter onde sentar (os bancos todos ocupados!), e sem ter onde fazer xixi. É, os banheiros estavam fechados durante a noite e só reabririam lá pras 6h. Tudo era às 6? Meu Deus!
Esperanza, uma gentil funcionária da estação, me deu uma esperança e “quebrou meu galho”. Me levou “escondida” até um dos vagões de um trem parado e lá pude finalmente “jogar a água pra fora”. Não sei se ria ou chorava!
No meio de todo esse drama, ainda chegamos a admirar a bela estação de trem de Basel, e seus arredores. Era madrugada, a cidade dormia, mas não alguns jovens que ainda brincavam nas ruas, talvez voltando de alguma balada; e quem estava ali na estação, como nós, esperando a hora de algum trem.
Além do mais, chovia. E a gente a entrar e sair da estação, na busca de uma solução ou simplesmente para espantar o tédio..
Bom, finalmente um trem. Para onde? Para Basel alemã, onde foderíamos comprar o bilhete para Freibrug. Ufa! Foram quatro trens, muitas horas e muito sufoco, em vez de apenas um trem (e de primeira classe) como o bilhete que tínhamos comprado desde aqui do Brasil.
Enfim, estávamos em Freiburg. Eram 7 horas da manhã e deveríamos estar por lá desde as 8 da noite anterior. Ainda bem que nosso hotel ficava super perto da estação. Chegamos rapidamente, porém “muertos”.
A cidade nos conquistou de cara. A ruazinha em que ficava nosso hotel, e o próprio, nos deixou encantados e isso já fez com que o cansaço arrefecesse. Quando entramos já vimos que o café da amanhã estava servido. Ôba! Tomamos o café e tomamos um bom banho (nem lembro a ordem) e resolvemos dormir um pouco. Precisávamos!
Quando estava bem tranquila pensando que iria dormir, me aparece câimbras nos pés. Era brincadeira, só podia ser! Pois bem, essa câimbra durou em torno de uma hora. Eu morta de sono, chorando com a dor e tentando segurar meus pés para que a câimbra passasse. Rezei, chorei, me desesperei. Foi punk. Mas, passou e eu pude descansar, afinal!
Que coisa! Acho que fiquei estafada com essa viagem louca, quero dizer, com os imprevistos que aconteceram. Duas noites sem dormir, e andando de aeroporto em aeroporto, e de estação de trem em estação, né mole não!
E, vale a pena dizer que o café da manhã desse hotel era uma coisa fabulosa! Os pães, então! Nossa, fico com água na boca só de pensar na variedade de frutas, frios, pães, sucos, etc e tal desse delicioso café! Aliás, todos os hotéis em que fomos na Alemanha tinham ótimos cafés da manhã. Mas, esse era o máximo mesmo!
2) Estamos Perdidos?
Teve um momento da viagem que achei que tava “pagando algum pecado”! Depois de todo esse transtorno causado pelo atraso do voo, quando pensei que estávamos destinados a curtir somente a parte boa, acontece mais uma coisa. Essa dá até pra rir agora , mas na hora…
2.1) De Bicicleta
Na etapa dos sete dias de bike (sudoeste da Alemanha e Alsácia na França) recebemos mapas com algumas explicações da empresa que contratamos. Só recebemos esse material ao chegarmos em Freiburg, nas vésperas da pedalada, e lógico que não tivemos tempo de estudar minuciosamente. Mas achamos que era tranquilo, e a cada noite fazíamos uma revisão da rota do dia seguinte. De cara percebemos que os mapas eram minúsculos, e que teríamos dificuldade para enxergar, mas como tinha explicações ao lado…
Bom, o resultado é que praticamente nos perdemos todos os dias (por pequenos trechos, ainda bem!), o que nos deu como troféu uma quilometragem excedente de pedal, talvez uns 10 km a mais por dia. Não temos muito a reclamar porque sempre chegávamos no “destino do dia” em boa hora, e o tempo de perda nem foi tanto. Mas, cada vez que isso acontecia era meio frustrante. “Ah, temos que voltar tudo isso?” Suponhamos que em vez de pedalar uns 330 quilômetros programados, pedalamos uns 400 (risos).
O que ganhamos? Mais cansaço físico, mas em compensação vimos novas e belas paisagens e até alguma cidade que estaria fora do roteiro. O que perdemos? Talvez algumas horas, mas também alguns quilos, que nos serviram para aproveitar melhor a gastronomia dessas regiões (risos).
Obs. Sobre a viagem de bike começo a contar aqui.
2.2) De carro
Na etapa que fizemos de carro também nos perdemos. Eu sei, vocês devem tá pensando: “Que loucos, serão marinheiros de primeira viagem?”. E o pior é que não, já temos bastante experiencia tanto em viajar de carro, bicicleta, trem, etc e tal. mas essa viagem foi sui generis mesmo!
Bom, fora o fato que a entrega do carro foi meio “zebrada” (prometeram entregar no hotel e depois não deu certo, etc e tal), dessa vez pagamos mesmo um mico. A entrega foi meio amadora (estranho para uma empresa de renome) pois não nos explicaram nada e tão somente nos deram a chave dizendo: “O carro tá lá, do outro lado”. Pronto. O mico nosso: Não notamos que o carro já vinha com GPS (essa é pra rir mesmo).
Assim, saímos com nossos mapas fotografados no Iphone, Deu tudo certo no primeiro trecho do dia. Chegamos “sãos e salvos”. Mas, no segundo trecho (ainda no primeiro dia), eis que de repente, uma pequena desatenção e entramos numa auto-estrada que não estava nos planos. De novo? Não bastava se perder com as bikes? Bom, mas o fato é que, fora a raiva inicial, logo mais encontramos de novo nossa rota original e tudo deu certo mais uma vez!
No dia seguinte, Santiago, meu marido, resolveu “fuçar” o carro e achou o maldito GPS. Na nossa cara (só rindo muito mesmo!). Ótimo, estávamos saindo de uma cidade na Áustria em direção à outra na Alemanha. Funcionou muito bem e ficamos super alegres! Eu principalmente, pois não precisaria mais dar uma de co-piloto!
Entretanto, eis que em outra etapa, iríamos voltar para a Áustria. Cadê o nome Áustria no GPS? Nada. Nem escrito em português, nem em inglês e nem em alemão. Que diabos era aquilo? Estava programado apenas para a Alemanha? Não era possível! Voltamos aos mapas no Iphone. Ô saco! A dificuldade foi mais nas entradas das cidades, mas era meio chato.
No terceiro dia, Santiago resolveu “fuçar” o GPS minunciosamente e consegui descobrir o “segredo”. Ufa! Daí pra frente fomos tranquilos!
O que perdemos? Algumas horas no primeiro dia, e um pouco da paciência. Também alguns quilômetros pela beira do Lago Constança, na parte suíça. O que ganhamos? expertise para checar tudo antes de sair e… rodar alguns quilômetros por uma auto-estrada que não estava nos planos (essa segunda parte, não sei não se ganhamos).
Ah, e esqueci de dizer que nosso carro era um conversível (chique, não?)!
2.3) Na Oktoberfest
Se perder na Oktoberfest é perdoável. Além da multidão tem a bebida na cabeça, né? Bom, de toda forma, foi meio punk. Tínhamos conseguido um hotel super perto da festa, uns cinco minutinhos a pé. Mas, não marcamos o lugar por onde entramos. Desatenciosos com o percurso, só prestávamos atenção na multidão, na festa em si.
Era tudo muito empolgante! Resultado: na saída, depois de cinco horas de festa e muita cerveja, saímos pelo lugar errado. “Não, não é aqui”. E assim saímos de saída em saída e nada de achar a “nossa”. Uma multidão uma coisa de louco, e a gente teimando em andar em linha reta quando havia saídas (ou entradas) também nas laterais… Nada que um táxi não resolvesse. Pronto, tudo resolvido!
Não perdemos nada. Andar um pouco a mais dentro da festa? O que tem demais? Nada, né não?
3) E no final?
Bom, sempre depois de descansados ou depois de “achados” conseguimos aproveitar tudo e mais alguma coisa! Adoramos a viagem inteira, e ao final é como dizem: “se lhe derem um limão faça uma limonada”!
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